domingo, 5 de abril de 2009

IGREJA PAROQUIAL DA PONTA DO PARGO
ARCIPRESTADO DA CALHETA
DIOCESE DO FUNCHAL
CATEQUESE

Homilia de D. António Carrilho, Bispo do Funchal,

no Domingo de Ramos –
Dia Mundial da Juventude
Sé do Funchal, 05 de Abril de 2009

Bendito O que vem em nome do Senhor!(Mc 11,9)

Com o Domingo de Ramos, a Igreja entra numa contemplação mais profunda do mistério Pascal de Jesus, dando início à Semana Santa ou semana maior e celebrando solenemente os grandes mistérios da Redenção, centrados na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A Igreja Universal, desde há anos a esta parte, celebra também, neste domingo, a Jornada Mundial da Juventude.
A Cruz, revelação do Amor
Foi no contexto celebrativo da proximidade da maior festa hebraica, a festa da Páscoa, que Jesus, montado num jumentinho, foi recebido em Jerusalém, entre aclamações e cânticos, como evocámos com a procissão dos Ramos. Pela primeira vez, Jesus, que se subtraía a todas as manifestações entusiásticas do povo, consentiu e preparou cuidadosamente a sua entrada triunfal naquela cidade.
Neste dia do Seu único triunfo, a multidão entusiasmada, saudou e acolheu Jesus como Rei Messias e Salvador. Muitos estenderam as suas capas no caminho, e outros ramos de verdura. E todos diziam: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mc 11,9) O alvoroço criado pelas multidões, que aclamavam e cantavam louvores ao Filho de David, com palmas e ramos de oliveira, aumentou o ódio dos fariseus, que tentaram impedir a manifestação, com palavras de falso zelo e aparente fidelidade a Roma.
Neste gesto de sentido messiânico e de realeza, Jesus manifesta-se como o Rei de Paz, manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29). Cristo é Aquele que vem trazer a paz e a salvação, ensinar-nos o caminho e o serviço humilde aos irmãos, com a entrega da própria vida. O Seu triunfo foi passageiro e apressou a Sua condenação à morte, em Jerusalém. O relato da Paixão do evangelista São Marcos, que acabámos de escutar, confirma que, de facto, o triunfo de Jesus culminou no Calvário, com a morte de Cruz. Seria, afinal, um momento da Sua “glorificação”!
São Paulo, vivamente impressionado com o amor de Cristo, que se esvaziou (“quénosis”) da dignidade de Filho de Deus, descendo ao mais profundo do abismo da desolação humana e da morte, exclama: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio”(Fl 2, 6) e obedeceu voluntariamente até à morte de Cruz. “A Cruz”, diz Bento XVI, “é a revelação mais perturbadora do Amor de Deus”.
Queridos jovens, Jesus é para todos nós, modelo de mansidão e de bondade, numa sociedade da cultura do efémero e do consumismo, que sobrevaloriza as aparências, o poder, o prestígio e as modas passageiras, e muitas vezes opta pela violência, com um total desrespeito pelo homem, atingindo especialmente os mais fracos. Caros jovens: sede a voz da Esperança, da Paz e do Amor, neste mundo de competição e desamor. Cristo precisa do vosso coração, das vossas mãos, talentos, alegria e entusiasmo, para ser conhecido, amado e seguido.

Mensagem de Esperança

O belo poema de Isaías da primeira leitura apresenta-nos, num realismo impressionante, o Servo sofredor, perfeitamente consciente e conhecedor do seu destino e missão salvífica. “O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo” (Is 50,5). Ao enumerar os graves sofrimentos que Lhe foram infligidos, o Servo do Senhor sabe que não precisa de Se desculpar nem de Se defender, porque Deus vem em Seu auxílio. Deus é eternamente fiel e está atento ao sofrimento dos mais frágeis e dos inocentes!
Caríssimos amigos, contemplando Jesus, ferido e humilhado, somos conduzidos pelo Espírito Santo a penetrar no abismo do eterno Amor do Pai: “Deus amou de tal maneira o mundo que entregou o seu próprio Filho” (Jo 3,16). A Paixão de Jesus é escola de profunda sabedoria e dos verdadeiros valores, que dignificam o homem.
O Papa Bento XVI centralizou a sua mensagem para este Dia Mundial da Juventude no tema da Esperança: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4,10). A Igreja, atenta aos actuais problemas dos jovens e fazendo ressonância eclesial das suas esperanças e sofrimentos concretos, diz-nos pela voz do Papa: “A juventude é o tempo das esperanças, dos sonhos e dos projectos e a crise da esperança do nosso mundo actual atinge mais profundamente os jovens: as dificuldades nos estudos, a falta de trabalho, incompreensões na família, crises nas relações de amizade ou na construção de um entendimento conjugal, doenças ou deficiências, carência de recursos adequados como consequência da actual difundida crise económica e social”. (Papa Bento XVI, Mensagem para a Jornada Mundial da Juventude 2009).

Ao serviço do Bem e da Verdade

Queridos jovens, como sabeis, a dignidade humana é gravemente lesada, quando o homem se afasta voluntariamente de Deus e recusa aceitar o Seu Amor gratuito e incondicional. Refere, ainda, Bento XVI na sua mensagem: “Eis por que uma das consequências principais do esquecimento de Deus é a evidente desorientação que marca as nossas sociedades, com consequências de solidão e violência, de insatisfação e perda de confiança que não raro terminam no desespero”, e acrescenta: “Não cedais à lógica do interesse egoísta, mas cultivai o amor ao próximo e esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capacidades humanas e profissionais ao serviço do bem comum e da verdade, sempre prontos a dar a razão da vossa esperança”.
Neste ano do Jubileu Paulino, olhai para S. Paulo, o jovem que foi surpreendido e atravessado pela Luz de Cristo no Caminho de Damasco! Seduzido e apaixonado por Cristo, tornou-se o grande Apóstolo da Palavra, modelo de evangelizador para todos os tempos. Com palavras de profundo e ardente amor por Jesus, exclama diante da loucura e da sabedoria da Cruz: "Estou crucificado com Cristo! Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim" (Gl 2, 20).

Construtores de uma nova civilização

O triunfo do Domingo de Ramos é um triunfo para o Calvário, que se realiza plenamente na glorificação e na morte de Jesus na Cruz. “Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome, que está acima de todos os nomes” (Fl 6-11). A Cruz é a prova indubitável de que Deus ama a humanidade e a quer feliz com Ele para sempre.
Querida juventude da Madeira e do Porto Santo, Jesus tem sede do vosso amor e da vossa generosidade ao serviço dos mais débeis e de quem mais precisa de ajuda! O Espírito Santo convida-nos, durante esta semana, a penetrar na intimidade do Coração de Cristo e a escutar, em registo de mistério Pascal, o paradoxo do Amor até ao fim. Não tenhais medo! O Amor de Deus é sempre libertador, criador, e redentor. Configurados com Ele, seremos testemunhas autênticas na construção da nova Civilização do Amor.
E termino, repetindo e fazendo meu o apelo tantas vezes dirigido aos jovens pelos últimos Papas: não tenhais medo!

+ António Carrilho, Bispo do Funchal