domingo, 12 de abril de 2009

IGREJA PAROQUIAL DA PONTA DO PARGO
ARCIPRESTADO DA CALHETA
DIOCESE DO FUNCHAL
CATEQUESE
Páscoa, a Terra Prometida
O que significa celebrar a Páscoa?
Depois de 40 dias no deserto, a Ressurreição é o oásis que surge nesse terreno árido?


A Ressurreição é mais que um oásis. É a Terra Prometida. O oásis é um sítio de passagem. Para nós, que estamos neste mundo de espaço e de tempo, a Páscoa que ensaiamos é a imagem da Terra Prometida, do fim do deserto.

Esta Terra Prometida surge-nos com frequência no nosso caminho ou apenas uma vez por ano?

Está sempre no nosso horizonte. Quem conduz a vida é a nossa finalidade. Ela conduz-nos todo o caminho e o percurso. Nós estamos virados para a busca da alegria e da plenitude. Este caminho está sempre presente, mas deve ser em crescendo porque a vida é uma tensão entre o que já é e aquilo que encontraremos um dia.
É uma busca de alegria com tensões?

A alegria tem várias conotações. Nem sempre entendemos a palavra alegria do mesmo modo. A alegria pascal é um estado de ânimo que me vira para fora e me abre aos outros. E abre-me também ao futuro. No entanto, utilizamos a palavra alegria para dizer estados de espírito e de mero contentamento que têm uma carga mais egoísta. Há uma alegria egoísta e uma alegria altruísta. A Páscoa é aquilo que Jesus Cristo nos trouxe com a Ressurreição. Ele trouxe-nos três coisas: a certeza de ser amado, a certeza que a vida faz sentido (há futuro) e a certeza que não ando neste mundo por ver andar os outros.

A alegria que nasce destas três verdades é diferente da mera satisfação?
É totalmente diferente. Para esses estados de espírito nem devíamos utilizar o termo alegria, mas satisfação.

A verdadeira alegria tem raízes na Páscoa?

Sim. No entanto, a primeira raiz é uma alegria egocêntrica (a busca de si próprio), a outra é uma conversão que vem por graça.

Os cristãos têm fome desta alegria que é Pão Vivo?
Deveriam ter porque esta alegria é o distintivo do cristão. É um estar virado para fora e uma vontade de viver e de comunicar. Esta alegria é compatível com a tristeza. É misterioso, mas podemos estar tristes e alegres em simultâneo.

Não é um sentimento contraditório?
A Páscoa é uma alegria dorida. É uma alegria que ainda está a caminho, não é plena. Tem as marcas do sofrimento da humanidade e do nosso próprio pecado. No entanto, é alegria porque é certeza de ser amado e que há futuro. O que contradiz a alegria não é a tristeza, mas o pessimismo.

Esta caminhada permanente tem apenas 40 dias ou é o ano litúrgico?

Quarenta dias é um paradigma para dizer que estamos sempre nesse percurso. No ano litúrgico fazemos o acompanhamento da vida de Cristo. Estes Quarenta dias são, propriamente, a preparação da Páscoa de uma forma intensiva. Para nós, enquanto não passarmos desta vida para a vida plena estamos sempre em Quaresma. Estamos a treinar a alegria e o optimismo.

Só depois aparece a fonte inesgotável. Conseguimos encontrar essa fonte?

Não podia existir alegria se houvesse essa dúvida de que a travessia não acabaria nunca. Nesses casos, em vez da alegria teríamos o divertimento e a euforia que são sucedâneos e momentâneos para enganar a falta de sentido. O divertimento não é a verdadeira alegria.

A Páscoa é simbolizada com o som das trombetas e da festa?

Esta alegria está relacionada com a festa. Quando alguém prepara uma festa de aniversário ou de homenagem não é apenas aquele dia que é festivo. Toda a preparação já é festa.

Símbolos e significados

Para vivermos melhor a festa, acende-se o Círio Pascal.

O Círio é um símbolo da passagem das trevas à luz. Acende-se para mostrar que há uma luz que começa a tomar conta do espaço. Este símbolo significa a luz no meio das trevas, mas significa, igualmente, que só se gastando haverá luz. É preciso que a vela e a cera se gaste para que haja luz. Não chegamos à alegria sem a nossa entrega e sacrifício. Quem não se quer gastar no amor não chega à luz.

É uma simbologia material visto que a cera desaparece.

O símbolo é algo material que nos projecta para uma realidade espiritual. Como símbolo tem os seus limites. Nós também nos gastamos, mas a luz fica. Um dia, a nossa dimensão histórica passa.

Então, a Ressurreição para os cristãos é como o girassol que roda com o sol?

Não é apenas um contemplar Cristo, mas participar desse Cristo. A Ressurreição é a passagem do precário e temporal para a eternidade. O girassol acompanha a luz e nós, mais do que acompanhar, vamos participando.

Um poeta diz que «A beleza é tão grande e nós somos tão frágeis».
Uma definição de Páscoa?

Nós percebemos que somos feitos para mais do que, naturalmente, conseguimos. A alegria pascal é um dom e uma graça que nos ultrapassa. No entanto, estamos destinados a caminhar. As narrativas evangélicas das aparições mostram que esta alegria transforma. Estes textos são fundamentais para percebermos a mudança que desejamos, mas que muitas vezes duvidamos que seja possível. Como temos uma tentação racionalista de que o mundo está fechado sobre si próprio, esta proposta parece-nos uma coisa estranha.

Qual a estação do ano que simboliza a Ressurreição?

De alguma maneira é a Primavera, mas a Ressurreição são os frutos. Na Primavera aparecem as flores. No entanto, a Ressurreição é o fruto de tudo isso. Essa imagem aparece no Evangelho de S. João: “Se a semente não der fruto...». O fruto é onde ressuscita a semente. Se a flor não der fruto pode ser uma coisa bonita, mas enganadora. Fica mais cosmética (efémera) do que cósmica (transformadora).

É fundamental um germinar constante?
É a capacidade de dar fruto, amor, paz, serviço e sentido para a vida. A alegria vem daí. A pessoa sem Páscoa não tem estas coisas e fica fechada sobre si próprio. Vive de forma contraditória como um rio que não desagua. Ao imaginarmos um rio que não desagua temos uma sensação de tristeza.

Ressurreição



Ressurreição em latim (resurrectione), grego (a·ná·sta·sis). Significa literalmente "levantar; erguer". Esta palavra é usada com freqüência nas Escrituras bíblicas, referindo à ressurreição dos mortos. No seio do povo hebreu, a palavra correlata designava diversos fenômenos que eram confundidos na mentalidade da época. O seu significado literal é voltar à vida, assim o ato de devolver uma pessoa considerada morta era chamada ressurreição; Existe a conotação escatológica adotada pela igreja católica para esse termo que é a ressurreição dos mortos no dia do juízo final.

A Ressurreição é a nascente ou é a foz?
Para nós é a foz. É espantoso, mas o fim comanda a vida. Cristo é o Alfa e o Omega. Jesus é nascente e foz. Este é o grande mistério, por isso nunca estamos abandonados. Sentimos que vamos para onde vimos.